sábado, 1 de maio de 2010

DOIS DEDOS DE PROSA COM O FOLCLORISTA PAIXÃO CÔRTES

Neste 1º de maio, dia em que saudamos a todos os trabalhadores, nada melhor do que prosear com alguém que lutou por nossa cultura do sul do país, com um batalhador incansável na busca do resgate, da veracidade e da autenticidade de nossos costumes e que, aos 83 anos, continua trabalhando em prol de nossas tradições. João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes

Nascido a 12 de julho d 1927, em Sant’Ana do Livramento, RS, Paixão Côrtes tem suas origens ligadas á vida pastoril e iniciou muito cedo suas pesquisas folclóricas. No transcorrer dos tempos se viu obrigado a comprar sua própria aparelhagem (gravador, filmadora, máquina fotográfica, etc..) para registrar a cultura popular gauchesca. Deste trabalho resultou um acervo de milhares de slides, centenas de fitas e vídeos, enfim, um arquivo histórico sobre os usos e costumes do povo gaúcho.

Afora sua importância como folclorista, Paixão Côrtes foi um verdadeiro precursor de todo este movimento que visa cultuar nossas raízes, pois fez parte do Piquete da Tradição, também chamado do Grupo dos Oito que, em 1947, de acavalo e pilchados a moda gaúcha, acompanharam os restos mortais do General Farrapo David Canabarro pelas ruas de Porto Alegre e, no mesmo ano, criaram a primeira Ronda Crioula, precursora da Semana Farroupilha de hoje, sendo, esses fatos, a fonte inspiradora de tudo o que se percebe agora em se tratando de tradicionalismo.

Falar sobre a representatividade de Paixão Côrtes para o folclore gaúcho careceria de livros e livros. Para termos algumas pitadas do pensamento deste que é o maior vulto vivo da história regional do Rio Grande, nosso blog teve, com ele, dois dedos de prosa.

Blog – Depois de Paixão Côrtes, poucos ativistas dedicaram-se a pesquisar nosso folclore. Por que são poucos os interessados nesta área? Não há mais nada o que pesquisar?

Paixão Côrtes – Bem. Eu acho é que as pessoas estão mais preocupadas é em festar do que fundamentar. Estão mais voltados para a recreação e o lazer antes de procurar as raízes que deram origem a esses momentos literários, sociais e culturais. Mas eu acho que ainda há muita coisa para se pesquisar. Existem muitas manifestações que estão aí a espera de pessoas preocupadas em revitalizar essas fontes.

Só como informação: em 1950 eu pesquisei a dança jardineira, em Vacaria. Quarenta e quatro anos depois eu vim encontrá-la aqui, em Santo Antônio da Patrulha. Esperei 44 anos para que realmente reconstituísem com toda a fidelidade. Seria muito mais fácil se eu não tivesse essa preocupação de veracidade e do respeito ás fontes originais como muita gente, irresponsavelmente, anda fazendo por aí. Minha preocupação é essa: reconstituir fielmente para que as novas gerações sejam portadoras da verdadeira raiz nativa riograndense.

Blog – Sendo o maior estudioso do assunto, como o senhor vê as danças de invernadas artísticas de hoje?

Paixão Côrtes – O que eu acho é o seguinte: as pessoas, as vezes, tem dificuldade de interpretar o que a gente escreve por que não conhecem português. Então, para essas pessoas, torna-se difícil entender o que a gente escreve traduzindo expressões artísticas, coreógrafas, musicais e de vestuário. Como as pessoas acham mais fácil olhar e acrescentar sua opinião pessoal, o que nós estamos vendo aí é uma verdadeira fantasia de vestuário e uma deturpação de temas originais que eu encontrei. Não quero dizer que as danças que eu investiguei sejam as únicas, mas estas, até que me provem o contrário, são as primitivas, as originais.

Hoje é muito comum a modificação, a estilização, a deturpação em razão da falta de documentos da época.

Blog – Nosso povo gosta muito de prestar homenagens “in memorian”. Que homenagem o senhor gostaria de receber em vida?

Paixão Côrtes – Eu estou recebendo todas as homenagens de pessoas sinceras que comungam com o espírito que me levou a criar, em 1947 o início do movimento tradicionalista através do Departamento de Comunicações do Colégio Júlio de Castilhos e, conseqüentemente o 35 CTG, que sou um dos fundadores.

A todo o momento eu me reencontro com as novas gerações e isto é um júbilo que a gente carrega pois já com 83 anos mas perfeitamente lúcido e me sentindo espiritualmente jovem, bastante jovem, porque estou dando muitos cursos e dançando continuadamente. Ensino setenta e tantas danças a cada curso que dou, a cada exposição coreográfica que faço aos mirins, juvenis, adultos e o reencontro com xirus veteranos, são momentos de homenagens perenes.

Isto sempre pensei em minha vida: o rever amigos são momentos de glórias, assim como a glória está na preservação original de nossos estudos, no reconhecimento destes trabalhos por parte das novas gerações e na causa maior que é o bem estar de todos nós.

Postado por Léo Ribeiro

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo chasque e pela iniciativa de nos brindar com as "sábias" palavras deste ícone das tradições do RS. Fizeste uma bela homenagem a este grande gaúcho Paixão Cortes. Permita-nos reproduzir este chasque.

Um baita Abraço.

Fontoura