quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Em defesa da Música do Sul

Há quem diga que o gaúcho peleador, aquele que não leva desaforo pra casa e que outrora fazia revolução por amor e em defesa da sua pátria e/ou território, só brigava em tempos que a temperatura lhe era adversa. Isto teria sido uma regra também para os gaúchos além fronteira, uruguaios e argentinos.
Digo isto porque esta máxima igualmente acontece na música aqui do sul. É no inverno que o gaúcho peleia sentimentalmente para defender sua música dos invasores e aí nascem canções, uma mais macanuda que a outra. Neste período também acontecem muitos dos grandes festivais e/ou encontros musicais, as barrancas como muitas vezes são chamados. Aqui entre nós temos a Sapecada da Canção Nativa que dispensa apresentações. Qualquer bugio já sabe, começaram a aparecer os primeiros pinhões para vender, encilhou o Pingo e subiu a serra para este grande encontro em Lages, que sempre acontece no período do feriado de Corpus Christi. E a Sapecadinha, como é carinhosamente chamada a edição regional, está cada ano melhor e hoje já classifica músicas que vão direto ao palco da final da grande Sapecada.
A menção feita sobre a intensa criação de músicas no período do frio, para defender o legado nativista e folclórico da grande nação gauchesca, da qual fizemos parte com muito orgulho, é uma realidade cada vez mais latente, uma vez que o inimigo que quer destruir o nosso patrimônio cultural está cada vez mais próximo, quando não entrincheirado, travestido de lobo em pele de cordeiro. É só olharmos com atenção em nossa volta. Muitos bons músicos estão por jogar a toalha dizendo que o nativismo puro não consegue mais pegar a cesta básica e custear o estudo da piazada. Lamentável.
E sabem onde também escutei semelhantes? Foi no Oeste paranaense. Lá estando a trabalho, tomei contato com a gauchada que se bandeou do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina para a região denominada de Municípios Lindeiros do Lago Itaipu. Neste feriado, estava acontecendo o Encontro das Águas, ou seja, uma barranca das três fronteiras, onde gaúchos, argentinos e paraguaios se reúnem para o sagrado ritual da criação de músicas nativas ou folclóricas como são denominadas nos países irmãos. Segundo os organizadores, o Encontro das Águas nasceu do instinto de preservação desta raiz cultural que une estes povos irmãos. Hoje a preocupação é ainda maior em defesa da constante ameaça dos grandes centros urbanos.
Como declaradamente apaixonado pelo Chamamé, uma das vertentes fortes entre a gente missioneira argentina e também dos vizinhos paraguaios me emocionei com o evento Encontro das Águas, mais uma iniciativa para servir de escudo em defesa da nossa música de raiz aqui do Sul maravilha.
Chasque de autoria de D. Machry, publicado no Jornal Buenas Che, edição de maio de 2008, na coluna Andanças. Acesse www.buenas.com.br

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