quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Faca Gaúcha




foto: facas Quadros

A Faca Gaúcha
Pampa, Rio Grande do Sul, guerra e pastoreio gaúcho, tipo característico da América do Sul. Peleia, faca, adaga e boloeadeiras. Dificilmente compreenderemos a história social do gaúcho sem o complemento de sua faca. Com a faca o gaúcho primitivo tirou as botas "Garrão de Potro" e nesta apresilhou as velhas esporas "Nazarenas" com rosetas ponteagudas, lembrando os espinhos da coroa de Cristo. Com a faca talhou o couro para retovar as três pedras das boleadeiras, indispensáveis, outrora, nas lidas campeiras e temíveis na guerra. E atou a faca na ponta de uma taquara, quando os clarins reclamaram as lanças crioulas nas estremaduras da Pátria. O gaúcho primitivo despresou a arma de fogo. A nobreza da luta estava no ferro branco. Com a faca o gaúcho agrediu e defendeu, peito a peito e cara a cara. Com a faca o gaúcho cortava a própria melena "aparava trança de china", tosava cola e crina e aparava o casco do pingo nas vésperas de carreira. O guasca enamorado, com a faca apanhou a flor que ofereceu a sua amada. Beijando a cruz da adaga o guasca traído jurou vingança e o "aço que canta" corcoveava na bainha bordada de flores. Com a faca o gaúcho talhou a canga para os bois puxarem as estradas do Rio Grande. Carneadeira, chavasca, prateada, lingua de chimango, ferro branco, choto, xerenga ... Seja qual for a denominação popular, a faca, o facão e a adaga estão incorporados à vida do homem sul riograndense. Enfiada na guaiaca, apertando os rins nas largas campereadas na cinta à esquerda ou à direita ou na cava do colete mesmo na cidade, o gaúcho que se preza não dispensa a sua faca. A faca sangra a rês, coreia, longeia, carneia, prepara a costela para o assado e o couro para o laço, corta o churrasco e apara os tentos. É com a faca que o gaúcho corta o "amarelinho" para tragar as introspecções do cismarrento cigarro de palha. Em noites de São João, a gauchinha trava a faca no tronco da bananeira para antecipar a sorte. Faca não se dá, faca se vende de presente pela moeda de menor valor, e o amigo paga para não perder a amizade. Com a faca o gaúcho brincou, peleou, dançou e trabalhou. Com a faca o gaúcho falquejou a própria história do Rio Grande. Da infância da terra, a maturidade histórica, a faca prolongou o braço do gaúcho. "Cavalo de boa boca, mulher de bom gênio, faca de bom fio."

Texto de Glauco Saraiva, poeta regionalista.
fonte:  http://www.facasquadros.blogspot.com/

Nenhum comentário: