segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O folclore gaúcho nas palavras de João Pantaleão


Entrevistas: Amanda Nunes, Fernanda Rüntzel e Francine de Oliveira – Acadêmicas do VII nível de Jornalismo.


Foto: João Pantaleão
Legenda: Foto de João Pantaleão Gonçalves Leite - capa do seu primeiro CD. Tirada por Czamanski Cia Ltda e elaborada por Fetter & Coelho.



“Cá nesse pago gaúcho,
Me vale a pena viver,
Se eu não fosse gaúcho
Pediria à Deus prá ser!
E depois que eu perecer
Rogarei sua permissão
Prá retornar à este chão
No formato de canção
Tornando a vida mais bela
E poder bailar com ela
Dentro do teu coração.” 
João Pantaleão Gonçalves Leite

ComArte dessa semana entrevistou o poeta gaúcho João Pantaleão Gonçalves Leite. Além de ser autor de muitas poesias e canções gaúchas, ter ganhado inúmeros prêmios em festivais e rodeios nativistas e ser conhecido como o “Pai do Bugio”, João Pantaleão é também um grande conhecedor da cultura e da história do Rio Grande do Sul. Atualmente ele está terminando o seu sexto livro, “O Rio Grande nos versos de João Pantaleão”, que trará muitas de suas letras, poesias, ilustrações, explicações do vocabulário gauchesco além dos hinos de sua autoria para as cidades de Passo Fundo e Lagoa Vermelha.




ComArte – S. Pantaleão, o senhor pode nos explicar o que é lenda?

João Pantaleão – Lenda é uma criação imaginária, é estória sem “H”, que um povo - vamos dizer assim: um povo atrasado - cria para si, e ela cresce junto com esse povo e é passada de geração em geração. Há diversos tipos de lendas, no Rio Grande do Sul tem umas famosas – como temos aqui a lenda do Jarau, a lenda do Negrinho do Pastoreio que ficou conhecida nacionalmente pela maneira com que ela empolga - João Simões Lopes que a escreveu, e ela se espalhou por todo o Brasil. E há lendas que vem lá de, como diz o gaúcho: “de mil oitocentos e outubro”, que as mães usavam para amedrontar as crianças, para não fazer arte - nesta época as mães diziam “dorme meu filho que se não bicho papão vem te pegar!”. E assim são as lendas do Rio Grande do Sul.



ComArte – O senhor pode dizer pra nós algum exemplo mais prático, principalmente dos homens do campo? Por exemplo, eles acendem velas pro Negrinho do Pastoreio, acreditam no Boitatá, como é essa relação que passa a existir na vida real a partir das lendas?

João Pantaleão – Essa lenda do Negrinho do Pastoreio, ela não foi apagada. Houve uma “espécie” Negrinho, e eles idolatram o Negrinho como se fosse um santo, feito através de uma lenda. O povo da cidade já não é tão agarrado a essa lenda do Pastoreio porque o povo vai evoluindo, mas não vai acompanhando a, como se diz, “tradição do gaúcho”. E a lenda do Negrinho do Pastoreio faz parte, é como uma prece na tradição do gaúcho. É a prece do homem do campo. O homem que perde, vamos dizer assim, alguma coisa no campo, acende uma vela pro Negrinho do Pastoreio e pede pro Negrinho “campear” o que ele perdeu. E acontece, às vezes, de ele encontrar e achar que foi um milagre do Negrinho do Pastoreio, que é uma lenda, né?



ComArte – E a lenda do Boitatá, tem algum exemplo na vida real como este do Negrinho do Pastoreio?

João Pantaleão – A lenda do Boitatá - o Boitatá é assim: um fogo-fátuo – e ele aparece principalmente nos banhados, campos rasos, e ele é causado pelo gás que vem dos ossos dos animais enterrados. Ficam fosforados, aí quando passa alguém perto, um animal, um homem a cavalo, com o movimento do ar aquele fogo acende e persegue o cavaleiro. Então, ele tinha uma lenda que aquele fogo estava perseguindo ele, sem saber o motivo que causou aquele fogo. Ali, principalmente os índios do povo Guarani, apelidaram de “mboi” que é “cobra fogo”, que é o Boitatá.



ComArte – E o senhor tem algum exemplo seu, de quando o senhor era criança? A sua mãe lhe contava alguma história baseada nessas lendas?

João Pantaleão - Sim, a do Bicho Papão a minha mãe usava muito, de criança era a que mais usava.



ComArte – Qual a sua lenda preferida?

João Pantaleão – Olha, eu gosto de todas as lendas do Rio Grande do Sul, mas sou muito apegado, gosto, é da lenda do Negrinho do Pastoreio. Tem em Lagoa Vermelha muito lenda sobre a água, do motivo de ela ser avermelhada, mas são diversas lendas que até é difícil contar aqui. A cada cem anos que passavam as lendas eram muito modificadas, eu, por exemplo, chegava a um determinado lugar e as pessoas me contavam que mataram um juiz de direito, que caiu na água e a água ficou avermelhada; outros que mataram os padres que iam conduzindo jóias; outros que os patrões matavam os escravos e largavam dentro da lagoa e ela se tornou vermelha, mas é porque tem muita lenda.



ComArte – Como o senhor vê a importância dessas lendas para o folclore do Rio Grande do Sul?

João Pantaleão – Essas lendas não podem ser apagadas, porque é igual a tradição do Rio Grande do Sul, aquilo está na alma do homem do campo. A hora que isso apagar – mas não vai, não vão morrer essas lendas, porque vêm passando de geração em geração. Na cidade sim, poderá morrer né? Mas pro homem do campo, pra vida rural, será sempre assim.



ComArte – O senhor acha que seria válido se hoje as cidades procurassem resgatar mais essas lendas, principalmente partindo das escolas com as crianças?

João Pantaleão – Eu acho que valia, seria válido sim. Porque tudo que você aprende, mesmo que seja folclórico - porque a lenda faz parte do folclore – tudo que é aprendido do folclore é bom, porque, afinal, é a cultura.



Perguntamos a psicóloga Maria Goreti Baptista Betencourt, como os psicólogos explicam o que é uma lenda e por que as pessoas as inventam. Ela nos deu o seguinte relato:




Postado por Revista Online
enviado por: Hilton Luiz Araldi

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