terça-feira, 16 de novembro de 2010

João Cezimbra Jacques

João Cezimbra Jacques


gentileza de Maria Helena Rigão



Nasceu em Santa Maria, em 13 de novembro de 1848, foi voluntário na Guerra do Paraguai, onde permaneceu durante 3 anos e recebeu condecorações do Uruguai, Argentina e Brasil.



Militar de cavalaria, foi para a reserva no posto de major.



Primeiro escritor santamariense a publicar um livro.



Participou da criação da primeira Academia de Letras do RS, sendo o patrono da cadeira 19 da atual Academia.



Foi um dos fundadores do Partido Republicano no RS. Era positivista convicto.



Fundador do Grêmio Gaúcho de Porto Alegre, entidade precursora da cultura gaúcha do RS.



Faleceu no Rio de Janeiro, em 28 de julho de 1922.



Sua obra:



Ensaio sobre os costumes do RS

Frases e vocábulos de Aba-Neega Guarani

Meditações

Notas sobre os silvícolas

Assuntos sociais

Assuntos do RS

O Parlamentarismo e o Presidencialismo

O Presidencialismo puro: novos ideais políticos

O aspirante a oficial Alberto Jacques

O Direito na Sociologia

A proteção do Operariado na República









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texto remetido por gentileza de Giorgis







HOMENAGEM A JOÃO CEZIMBRA JACQUES, PATRONO DO TRADICIONALISMO GAÚCHO E EX-PROFESSOR DO VELHO CASARÃO DA VÁRZEA (CMPA), REALIZADA NO COLÉGIO MILITAR DE PORTO ALEGRE EM 27 DE MAIO DE 1999.

O HOMEM JOÃO CEZIMBRA JACQUES

Segundo seu biógrafo - o Coronel PM, historiador e membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul - Hélio Moro Mariante, aqui presente, JOÃO CEZIMBRA JACQUES teve sua vida terrena assinalada por um signo dúplice - o do infortúnio e o do pioneirismo - um e outro com extraordinária influência em sua vida.

Abriu os olhos para o mundo na rua do Acampamento, em Santa Maria, no dia 13 de novembro de 1849. Seu pai, moço ainda, expirou no Paraguai a serviço da Pátria, onde também se encontrava nosso biografado que, contando apenas 18 anos de idade, prestava serviços de guerra, engajado no 2º Regimento de Cavalaria.

Sua mãe, esposa e filhos faleceram muito jovens, vítimas da tuberculose que dizimou toda sua família, vindo ele próprio sucumbir aos 73 anos de idade, do mesmo mal.

Juntamente com seus dois irmãos, Cezimbra Jacques foi criado pelos avós paternos. Esse permanente e angustiante estado emocional influenciou, como não poderia deixar de ser, em sua idiossincrasia, pois que o acompanhou do berço ao túmulo como um ferrete a amargurar-lhe a existência.

De estatura mediana, cabelos lisos, maçãs do rosto salientes. grandes orelhas, olhos levemente amendoados, fronte ampla e bastos bigodes, era bem o tipo representativo do gaúcho da campanha.

"Indiático, pouca barba, a sua fisionomia tinha traços do silvícola nacional. Talvez mesmo, o sangue desses antepassados corresse nas suas veias", segundo precioso depoimento de seu íntimo amigo, Dr. Sinval Saldanha, que acrescentou: "Original, excêntrico, respeitável por todos os títulos, gozava de alta consideração no meio social."

O Dr. Mário Kroeff, amigo pessoal de Cezimbra Jacques, em seus livros "Imagens do Meu Rio Grande" e "O Gaúcho no Panorama Brasileiro", relata com pormenores, a tragédia que se abateu sobre a família de Cezimbra, culminando por acompanhar ele próprio os restos mortais de seus filhos e de seu pai até a última morada. Encarregado do enterro pelo próprio Cezimbra, desincumbiu-se dolorosamente do encargo.

Outro depoimento valioso, de autoria do também seu amigo Dr. Sinval Saldanha, diz: "Mais de uma vez visitei-o em sua residência na Avenida Mem de Sá, no Rio. Eu ia em companhia do Oswaldo e do Mário Kroeff, seus bons amigos aqui do Sul. Na parede do quarto, penduradas, se viam fotografias de dois moços e duas blusas de militar. Eram dos entes queridos levados pela morte. Uma ou duas vezes por semana renovavam-se as flores que enfeitavam aquele quarto.

E o velho pai, reverente, saudoso e positivista, se encurvava todos os dias ante aqueles objetos pertencentes aos caros filhos desaparecidos.

Em dado momento de nossa palestra, naturalmente sobre assuntos do Rio Grande do Sul, Cezimbra Jacques abriu uma gaveta e dela tirou um saquinho. Aberto, vimos que tinha terra. Sim, era terra do Rio Grande do Sul que o venerando cidadão conservava para lhe servir de travesseiro em seu caixão mortuário. Emocionado, disse que ia morrer distante de seu torrão natal, pois não queria afastar-se para longe da sepultura dos filhos, no Rio. E assim sendo, suplicava aos três amigos presentes, que levassem um dia as suas cinzas para os pagos sulinos.

Lamentavelmente não foi cumprida sua última vontade. Oswaldo e eu morávamos em Porto Alegre; Mário, no Rio de Janeiro, viajou à Europa por longo tempo. Deixamos assim, passar o prazo do arrendamento do túmulo do intrépido gaúcho".

No entanto, durante o Primeiro Congresso Tradicionalista Gaúcho, em Capão da Canoa, uma tradicionalista pediu ao presidente do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul, Cel Cláudio Moreira Bento, para localizar os restos mortais de Cezimbra Jacques, e o Instituto então foi a campo. Através das pesquisas realizadas no Hospital Central do Exército, onde ele faleceu em 28 julho 1922, na Santa Casa - que administra os cemitérios, na Biblioteca Nacional e no jornal A Noite - que registrou seu falecimento, chegou-se à conclusão que seu óbito foi lavrado sob o número 242, tendo sido seus restos mortais trasladados para Porto Alegre em 3 agosto 1927, com a guia de nº 406. Todavia, ainda não se descobriu quem o levou e para onde.

O MILITAR JOÃO CEZIMBRA JACQUES

Sua vida militar pode ser assim resumida:

Em 1867, contando apenas 18 anos de idade e à revelia de seus avós, por quem estava sendo criado, alistou-se no 2º Regimento de Cavalaria, que passou a integrar o 3º Corpo do Exército Brasileiro que operou no Paraguai.

Finda a guerra, retornou à Pátria como 2º Cadete do 4º Regimento de Cavalaria, tendo sido condecorado com medalhas conferidas pelos governos do Brasil, Argentina e Uruguai.

Logo após seu regresso, verifica praça no dia 1º outubro de 1870, ingressando, como filho de militar, diretamente na Escola Militar. Gaúcho até a medula dos ossos, preferiu a Arma de Cavalaria, concluindo o respectivo curso no ano de 1874. Foi elevado a Alferes em 1875, a Tenente em 1884 e a Capitão em 1891.

Em 1895 comandava o 3º Esquadrão do 3º Regimento de Cavalaria.

Foi instrutor da Escola Preparatória de Rio Pardo e do Curso D'Armas da Escola Militar do Rio Grande do Sul em Porto Alegre.

A compulsória atingiu o Major Cezimbra Jacques em 1901 e, segundo pesquisas do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul, foi transferido para a reserva do Exército nacional no posto de Coronel.

Mestre, desenvolveu atividades, desde o tempo do Império, na Escola Preparatória de Rio Pardo, grande celeiro de Oficiais Superiores do nosso Exército, e na Escola Militar de Porto Alegre, também famosa pelo número de Oficiais ilustres que passaram pelos seus bancos. De um dinamismo incomum, era muito acatado, quer no meio civil, quer no militar. sendo muito estimado por alunos e considerado por seus pares.

Foi instrutor militar do Instituto de Ensino da Escola de Engenharia, hoje Colégio Estadual Júlio de Castilhos.

A OBRA DE JOÃO CEZIMBRA JACQUES

Seu pioneirismo nos é revelado por diversas iniciativas: como escritor versou sobre assuntos até então pouco explorados ou inéditos em nossas letras; por sua inspiração e trabalho de proselitismo foi criado o Grêmio Gaúcho, núcleo primeiro no culto sistematizado das tradições sul-riograndenses; fez parte dos primeiros adeptos do positivismo em nosso Estado; foi um dos primeiros gaúchos a escrever sobre o problema social; falava o francês, o guarani e o caigangue, e gozava de prodigiosa memória.

Sua participação na vida pública, social e intelectual do seu Estado foi profícua e plena de serviços prestados.

Dotado de profundo espírito cívico-patriótico, suas atenções encontravam-se permanentemente voltadas para as origens e fatos de sua terra e usos e costumes do homem nela integrado.

Escritor, conferencista, indigenista, professor e instrutor, possuía o poder da persuasão. Com facilidade atraía amizades e sua palavra, simples mas incisiva, conquistava adeptos para os seus ideais.

Cidadão integrado na política de seu país, foi um dos fundadores do Partido Republicano no RS (1880).

Já na reserva do Exército, teve ativa participação nas liças partidárias. Freqüentemente proferia palestras e conferências versando sobre assuntos políticos; escreveu dois pequenos ensaios: "O Parlamentarismo e o Presidencialismo" e "O Presidencialismo Puro", ambos em 1918.

Integrou o elenco de intelectuais gaúchos que fundou a Academia de Letras do RS, onde ocupou a cadeira de Crítica e História. É o patrono da cadeira nº 19 da atual Academia Riograndense de Letras.

Discípulo convicto de Augusto Comte, revela seus ideais positivistas em vários ensaios sobre política e assuntos locais, todos embasados no Sistema Político Positivo. Seguindo seu destino de antecipar fatos e idéias, Cezimbra Jacques publicou, também em 1918, um pequeno ensaio sob o título "A Proteção ao Operariado na República", tema pouco explorado e quase tabu à época.

Indigenista, falava muito bem o Guarani e possuía bons conhecimentos do Caigangue, o que lhe permitia dialogar com representantes dessas tribos. Era uma espécie de cônsul dos aborígenes semi-civilizados então existentes no RS. Recebia-os em sua residência na Várzea ( atual Avenida João Pessoa, em Porto Alegre), onde por vezes eram alojados. Encaminhava-os aos poderes competentes, apadrinhando suas reivindicações.

Além de considerações a respeito da vida, usos e costumes dos indígenas sul-riograndenses, registrados em seu "Ensaio Sobre os Costumes do Rio Grande do Sul" (1883) e em "Assuntos do Rio Grande do Sul" (1911), escreveu uma pequena monografia intitulada "Frases e Vocábulos de Aba Neenga Guarani e Notas Sobre os Silvícolas".

Estas duas obras tratam de história, geografia, usos e costumes das gentes da raia meridional patrícia, de alto interesse para antropólogos, folcloristas e estudiosos em geral.. Variada é a matéria apresentada: música, poesia, danças populares, crendices e superstições, aspectos lúdicos, culinária, indumentária, pelagens bovina e eqüina, lendas em sua pureza primitiva, colhidas diretamente da boca do povo, e outros aspectos da vida do homem do campo que faz da faina pastoril o motivo e a razão de ser da sua existência.

Registra ainda um pequeno vocabulário; dá-nos uma sintética notícia da nossa antologia literária e inclui valioso estudo etnográfico referente aos indígenas instalados no RS.

Um estudo sério da formação do homem no pampa sul-brasileiro não pode prescindir de consultar a obra de Cezimbra Jacques.

É mais um mestre, um pesquisador e divulgador que um escritor. Sua aspiração era ser útil, e o foi.

Apaixonado por seu pago, orgulhoso da história, admirador da geografia e profundo conhecedor dos costumes sul-riograndenses, por ele recolhidos, analisados e, principalmente, vividos, passou a publicar os resultados das suas remebranças, observações e pesquisas em periódicos. Posteriormente, atendendo a solicitações de amigos e admiradores dos seus trabalhos de coleta e divulgação, enfeixou-os nos dois referidos volumes.

O GAÚCHO JOÃO CEZIMBRA JACQUES

Entusiasta e excelente tocador de viola, era grande conhecedor das danças antigas, cujas características - coreografia, música e letra - recolheu nas suas andanças pelos pagos.

Foi um grande ginete e exímio domador. Anacleto Torres, relata que João Cezimbra Jacques costumava passar temporadas nas estâncias de parentes e amigos, participando, com invulgar entusiasmo, de todas as práticas campeiras, nas quais se revelava um verdadeiro mestre, informando-nos ainda que "usava estribos de cônica aspa de touro brasino e botas de meio pé, feitas de garrão de bagual tordilho-negro".

Conseguiu ver colimado seu anelo de criar no Rio Grande do Sul entidades de cunho nativista onde, segundo suas próprias palavras, se pudesse "cultivar os usos salutares do passado, já nos outros ramos de atividades de um povo, já nos jogos e diversões, de modo a poder-se reproduzir esses quadros da vida dos nossos Maiores nas comemorações dos grandes acontecimentos do passado...".

Auxiliado por um grupo de dedicados patriotas, civis e militares, e entre estes, colegas e alunos da então Escola Militar, fundou o Grêmio Gaúcho na cidade de Porto Alegre, no dia 22 de abril de 1898. No seu próprio dizer, foi ele o "primeiro iniciador de sociedades dessa ordem no Rio Grande do Sul" com a fundação do Grêmio Gaúcho.

Por este motivo foi agraciado com o honroso título de Patrono do Tradicionalismo Gaúcho, resolução tomada em Congresso Tradicionalista Gaúcho efetivado na cidade de Rosário do Sul.

Ao homenageá-lo nesta data solene, ano do sesquicentenário de seu nascimento e centésimo primeiro da fundação do Grêmio Gaúcho, o fazemos com especial deferência.

Ao insigne mestre deste Velho Casarão da Várzea, Coronel João Cezimbra Jacques, o Colégio Militar de Porto Alegre e o Exército Brasileiro curvam-se num preito de honra, respeito e admiração.


Ao mesmo tempo, o CTG Potreiro da Várzea, captando e exprimindo o sentimento dos gaúchos de todas as querências, ergue os olhos para o firmamento e, com a voz embargada pela emoção, grita em alto e bom tom: "Obrigado, tchê Cezimbra!".

Texto preparado pelo Cel Leonardo Araujo, baseado na obra biográfica realizada pelo Cel PM Hélio Moro Mariante e em estudos do Cel Cláudio Moreira Bento.


fonte: http://www.paginadogaucho.com.br/pers/jcj.htm
enviado por : Hilton Luiz Araldi

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