sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

UM POUCO DA HISTÓRIA DA TRADICIONAL INDUMENTÁRIA DA PRENDA GAÚCHA SUL BRASILEIRA !


UM POUCO DA HISTÓRIA DA TRADICIONAL INDUMENTÁRIA DA PRENDA GAÚCHA SUL-BRASILEIRA!
PORTO ALEGRE, 12 de julho de 1820 – Um francês, que negocia aqui para um estabelecimento do Rio de Janeiro, veio convidar-me para passar a noite em uma casa onde de via realizar-se um pequeno baile. Sabedor de que essa casa era uma das mais prestigiosas de Porto Alegre, não hesitei em aceitar o convite; e encontrei, num salão bem mobiliado e forrado de papel francês, uma reunião de trinta a quarenta pessoas, entre homens e mulheres. Em se tratando de parentes e amigos íntimos, não havia luxo nos trajes. As mulheres estavam vestidas com simplicidade e decência; (p. 61)
ESTÂNCIA DO SILVÉRIO – 20 de setembro de 1820 - As casas são pouco afastadas umas das outras; vêem-se aqui e ali pequenos bosques e, continuamente, passa-se diante de campos de trigo; excetuando duas casas cobertas de telhas, e entre as quais aquela onde pernoitei, todas as outras são cobertas de palha; pequenas, mobiliadas de maneira pobre e construídas de pau-a-pique. Causa admiração o contraste que apresentam as casas com o traje das mulheres que as habitam. Vi, à janela de uma dessas cabanas, uma encantadora jovem, cujos cabelos estavam penteados com gosto, e que trazia um vestido de indiana e fichu de seda. (p. 127)
ESTÂNCIA DO VELHO TERRAS – 21 de setembro de 1820 - Cerca de duas léguas da Estância do Silvério, comecei a avistar, à minha direita, um grande lago que se estende paralelamente ao caminho. A quase uma légua daqui, parei alguns instantes numa estância situada às margens do lago, e que se compõe de algumas choupanas muito baixas, e construídas, ainda, de pau-a-pique. Fui recebido por uma senhora idosa, alegre, honesta, muito conversadora. Trajava-se como todas as mulheres da região. (p.129)
CASTILHOS – 10 de outubro de 1820 (próximo ao Chuí) - Parei em uma estância pertencente à irmã de Ângelo Núñez, e que se constitui de várias choupanas baixas, construídas em terra parda, avultando apenas a casa do proprietário. Na sala em que fui recebido, duas armações de cama, outro tanto de cadeiras de palha pintadas de encarnado, mesas e sobre uma delas uma capela portátil, à maneira portuguesa. As paredes caiadas de branco, sem forro nem assoalho. Ao entrar, encontrei os proprietários da casa e várias jovens de dez a quinze anos, de fisionomia verdadeiramente angélica, pele fina, coradas, grandes olhos pretos, boca pequena, cabelos castanho-escuros. Estas jovens, filhas do dono da casa, trajam, como sua mãe, vestido de indiana e um fichu de algodão, trazem os cabelos trançados e alteados com um pente. A mãe está de meias e sapatos, o que não acontece às filhas.(p.156)
CASTILHOS, 11 DE OUTUBRO DE 1820 - Os homens que encontrei por aqui usam um chiripá, pedaço de tecido de lã do qual se faz um cinto e que cobre as coxas, descendo até os joelhos como um saiote. Vestem calças largas de um tecido de algodão feito em casa, e a extremidade de cada perna termina em franjas, acima das quais há muitas vezes um ponto aberto (à jour). Nenhuma proporção entre a maneira de trajar dos homens e as das mulheres; estas se vestem como damas, os homens um pouco melhor que nossos camponeses da França. (p. 158)
ESTÂNCIA DE BRITO, 24 de dezembro de 1820 - Parei numa estância que, como todas as outras, se constitui de várias choupanas esparsas. Aquela onde mora o mestre compõe-se, ainda, de grande sala mobiliada com cadeiras pintadas e de quarto de dormir. A sala se mantém muito limpa, o que não é comum. Os donos da casa me convidaram para fazer as refeições, mas seus filhos, alguns dos quais casados, não participaram da mesa. Comemos metade em pratos, metade em gamelas. As senhoras sempre em trajes femininos, e os homens, como camponeses, com o chiripá, calças de franjas, botas de pele deperna de novilho. (p. 233)

Fonte: Saint-Hilaire, Auguste de, 1779-1853. Viagem ao Rio Grande do Sul/Auguste de Saint-Hilaire; tradução de Adroaldo Mesquita da Costa. - Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2002. 578 p. - (Coleção O Brasil visto por estrangeiros)

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