sábado, 13 de novembro de 2010

O Massacre de Porongos completa 166 anos de história e 60 de reconhecimento oficial

O Massacre de Porongos completa 166 anos de história e 60 de reconhecimento oficial



Paulo Monteiro (*)



Um dos episódios mais trágicos e discutidos da História do Rio Grande do Sul completa 166 anos neste dia 14 de novembro de 2010.

Às primeiras horas (madrugada) daquele dia a fração do Exército da República Rio-Grandense, comandada pelo general David Canabarro, estava acampada no Serro dos Porongos, no atual município de Pinheiro Machado, quando foi atacada pelas forças imperiais comandadas pelo coronel Francisco Pedro de Abreu, mais conhecido pelas alcunhas de Chico Pedro e Moringue.

Apesar de avisado de que Chico Pedro estava por perto, Canabarro zombou da situação, dizendo que se o Moringue sentisse o cheiro dele (Canabarro), correria.

Em vez de prevenir-se, mandou retirar as armas de fogo dos lanceiros negros, na tarde do dia 13 de novembro de 1844. Pela madrugada os revolucionários (?bandidos? como dizia o Barão de Caxias) foram atacados. Peleando no escuro, e mal armados, os lanceiros negros salvaram seus camaradas.

Canabarro, segundo consta, fugiu quase pelado da barraca da Papagaia, mulher do boticário, que servia de médico aos revolucionários.

Algum tempo depois, apareceu um ofício assinado pelo Barão de Caxias dando as coordenadas para que Chico Pedro atacasse os farroupilhas, matando principalmente os negros e poupando o sangue dos brancos.

É uma história comprida que divulgo em meu artigo O Massacre de Porongos e a Capitulação de Ponche Verde, disponível em diversos sítios da Internet e no meu livro O Massacre de Porongos & Outras Histórias Gaúchas.

Muito se discute se o documento do Barão de Caxias é falso ou verdadeiro.

Para mim é verdadeiro. Em 1950, sob a chancela (aquele carimbo vazado) do Ministro do Exército, e sob o nome deste Canrobert Pereira da Costa, o documento foi publicado pela Imprensa Militar, do Rio de Janeiro, de Ofícios do Barão de Caxias de 1842 a 1845.

Tive a oportunidade de mostrar essa obra a diversos advogados experientes e a conclusão de todos eles é uma só: é documento. Ninguém pode discordar da veracidade de que houve um acordo entre os generais Luiz Alves de Lima e Silva, Barão de Caxias, e David Canabarro, então comandante do Exército da República Rio-Grandese para matar os lanceiros negros. O caso está, até prova legal em contrário, resolvido.

O Massacre de Porongos, há exatos 60 anos, foi reconhecido oficialmente pelo Ministério do Exército, como produto de um acordo entre Caxias e Canabarro. E ponto final.



ANEXO:

Carta de Caxias para atacar Porongos




Reservado ? Sr. Cel. Francisco Pedro de Abreu, Com. Da 8ª Brigada do Exército - Regule V. S. suas marchas de maneira que no dia 14, às duas horas da madrugada possa atacar as forças a mando de Canabarro, que estará nesse dia no Serro dos Porongos. Não se descuide de mandar bombear o lugar do acampamento de dia, devendo ficar bem certo de que ele há de passar a noite nesse mesmo acampamento. Suas marchas devem ser o mais ocultas que possível seja, inclinando-se sempre sobre a sua direita, pois posso afiançar-lhe que Canabarro e Lucas ajustaram ter as suas observações sobre o lado oposto. No conflito poupe o sangue brasileiro o quanto puder, particularmente da gente branca da Província ou índios, pois bem sabe que essa pobre gente ainda nos pode ser útil no futuro. A relação junta é das pessoas a quem deve dar escápula, se por casualidade caírem prisioneiras. Não receia a infantaria inimiga, pois ela há de receber ordem de um ministro de seu general-em-chefe para entregar o cartuchame sob o pretexto de desconfiarem dela. Se Canabarro ou Lucas forem prisioneiros deve dar-lhes escápula de maneira que ninguém possa nem levemente desconfiar, nem mesmo os outros que eles pedem, que não sejam presos, pois V.S. bem deve conhecer a gravidade deste secreto negócio, que nos levará em poucos dias ao fim da revolta desta Província. Se por acaso cair prisioneiro um cirurgião ou um boticário de Santa Catarina, casado, não lhe registre a sua bagagem, nem consinta que ninguém lhe toque, pois com ela deve estar a de Canabarro. Se por fatalidade, não puder alcançar o lugar que lhe indico, no dia 14, às horas marcadas, deverá desferir o ataque para o dia 15 às mesmas horas, ficando certo de que, neste caso, o acampamento estará mudado um quarto de légua, mais ou menos por essas imediações em que estiveram no dia 14. Se o portador chegar a tempo de que esta importante empresa possa se efetuar, V.S. lhe dará seis onças, pois ele promete-me entregar em suas mãos este ofício até às 4 horas da tarde do dia 11 do corrente. Além de tudo quanto lhe digo nesta ocasião, já V S. deverá estar bem ao fato do Estado das coisas pelo meu ofício de 28 de outubro e, por isso, julgo que o bote será aproveitado desta vez. Todo o segredo e circunspecção é indispensável nesta ocasião, e eu confio no seu zelo e discernimento que não abusará deste importante segredo. Deus Guarde a V. S. Quartel-General da Província e Com.-em-Chefe do Exército, em marcha nas imediações de Bagé, 9 de novembro de 1844 - Barão de Caxias.
Apenso - NOTA IMPORTANTE DO COPIADOR, à p. 148 desta coletânea de ofícios de Caxias: Este ofício deve ser criteriosamente analisado. Há quem tenha suas dúvidas a respeito de sua autenticidade. No Livro 171 do Museu do Estado, ele está deslocado, isto é, foi copiado na última página do mesmo, pág. 249, enquanto o ofício que trata da parte do combate dos Porongos está na pág. 206. O Ofício a que se refere Caxias, de 28 de outubro, contendo o mesmo assunto, não foi possível descobrir. Esse ofício talvez elucidasse o assunto. Vide o que diz a propósito Alfredo Ferreira Rodrigues no Almanaque do Rio Grande do Sul de 1901. A defesa de A. F. Rodrigues de Canabarro me parece fraca. Julgo o documento legítimo, pois Francisco Pedro não teria nenhuma conveniência em divulgar um documento que lhe tiraria todas as honras de uma estrondosa vitória, como foi julgada a surpresa dos Porongos.



(*) Paulo Monteiro pertence a diversas entidades culturais do Brasil e do exterior e estuda a história sul-rio-grandense há mais de 40 anos.



Hilton Luiz Araldi

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