sábado, 12 de setembro de 2009

BLITZ NO ACAMPAMENTO


BLITZ NO ACAMPAMENTO

Inspeção gaudéria
Folclorista percorreu piquetes para conferir como gaúchos seguem a tradição

Um gaúcho legítimo se reconhece pelas botas e bombacha e pelo lenço no pescoço, certo? Nada disso. Quem empenha seu fio de bigode na contestação ao figurino é o folclorista Paixão Côrtes, um dos criadores do Movimento Tradicionalista Gaúcho.

A convite de Zero Hora, o principal expoente do tradicionalismo fez uma blitz gaudéria no Acampamento Farroupilha, na manhã de ontem, para verificar se a tradição está sendo seguida no parque Maurício Sirotsky Sobrinho, em Porto Alegre. No passeio, ele foi saudado por tradicionalistas da nova geração vestidos a caráter.

Com autoridade de quem serviu de modelo para a Estátua do Laçador, o pesquisador de 82 anos garante que vestir a pilcha sem conhecer as tradições é o mesmo que estar fantasiado de gaúcho.

– Não adianta ser só gaúcho de palco, ou só no 20 de Setembro. Muitas pessoas não entendem as razões do culto – advertiu.

Paixão desconfia de qualquer Centro de Tradições que não tenha um fogo de chão, considerado por ele um dos símbolos essenciais da alma campeira, ao lado do chimarrão. Mas não considera a pilcha tão importante assim. O advogado Caruso Octávio Alves, 53 anos, que tomava mate à beira de um fogão campeiro sem lenço nem bombacha, no piquete 30 de abril, recebeu a aprovação do tradicionalista:

– Nele está encarnada a simbologia do culto, e isso é o mais importante. Aqui está uma cozinha típica de campanha, com um fogão autêntico.

Já o uso do lenço virou motivo de risada. Quando viu o administrador de empresas André Vega, 45 anos, e o servidor público Carlos Bonatto, 44 anos, com lenços curtos enrolados no pescoço, Paixão brincou:

– O lenço tradicional é comprido. Originalmente o lenço é um símbolo fálico, então se o gaúcho usa pequenininho isso quer dizer alguma coisa.

Surpreendidos com a explicação, os dois prometeram que vão aposentar os lencinhos.

Durante a visita, Paixão também observou que havia um piquete decorado com acessórios de caubói e repreendeu o modismo de prendas usarem lenços e bombachas masculinas. Mas ressaltou que é contrário a todo tipo de proibição ou engessamento da cultura popular.

– O gaúcho é simples, quem complica são os metidos a cultos – disse.

leticia.duarte@zerohora.com.br

LETÍCIA DUARTE
Palavra de Paixão
Piá de brinco e guria de minissaia podem ir ao baile?
Se Paixão fosse o patrão do CTG, ele deixaria. Para ele, os eventos tradicionalistas são públicos, e ninguém deve ser proibido de participar.
– Esse seria o momento de despertar a consciência. Ao ver os outros fazendo, a pessoa pode aprender e também querer seguir a tradição.
Prenda pode usar bombacha?
O folclorista acha que mulheres que usam bombachas masculinas ficam “amachorradas”, mas não quer dizer que elas só possam usar vestido. Paixão lembra que existe na tradição um tipo específico de bombacha feminina, que pode ser usada sem restrições.
Invernada de CTG deve usar uniforme?
Paixão é contra o que classifica de despersonalização:
– Quem usa uniforme é militar, freira ou padre, desportista ou gente de partido político fascista ou comunista. Cada um tem que usar do seu jeito, não tem que uniformizar. Se pega uma loira e bota um vestido amarelo, ela fica uma espiga de milho. Se pegar uma morena e botar um vestido roxo, fica uma santinha de quaresma.

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